Friday, December 15, 2006

Desprezo


Desprezo. É o que sinto quando penso em ti. O que antes era evidente e incontrolável deixou de fazer sentido. Não te procuro. Estás desfigurado. Não és o que pintava. É-me indeferente estares ou não estares. Quando estás, custa responder-te, não me apetece. O teu egoismo afastou-nos. Eu percebi. Custou, custou muito sim. A indeferença e a ingratidão elevaram-se. Não te detesto, nada disso. Mas vejo-te de maneira diferente. És mais comum, deixaste de merecer estar presente no meu quotidiano. Não te deve fazer diferença. A mim, neste momento também já não faz. Quero lá saber. Um dia de cada vez. Calma e pensamento nobre. Muitos objectivos, é necessário canalizar energias. Foi mau, mas foi bom. Descobri com quem posso contar. O que poderia durar anos, desvaneceu. Perdeu-se no nada, reduziu-se a pó. O futuro está ai. E a razão toma conta de mim.

Thursday, December 07, 2006

Escolhas...


Verde ou azul, branco ou cinzento... o verde porque sobressai os olhos, o branco porque está na moda, o azul e o cinzento porque me apeteceu. Sei lá. A justificação não é racional, talvez seja sentimental. Não interessa. Hesito, pondero hipoteses, vantagens, desvantagens... Muda o padrão, muda o modelo. Avalio, mas o meu padrão de medida não é isento, está viciado de acordo com uma forma de ser e estar. Se ao avaliar procuro ser imparcial e justa. Torno-me cada vez mais injusta. O tempo passa, e ainda recflito sobre escolha. Qual me oferece mais combinações, mais paz, projecção camuflada. Estou baralhada, indecisa. O meu lado racional combate com o sentimental nas escolhas. Depois da luta, faz-se o balanço, direccionam-se comportamentos. Mas para quê? Perante tanta ponderação. Perante tantas variaveis. Houve uma coisa que nunca esteve em causa...A escolha... pois esta sempre esteve feita.

Tuesday, November 28, 2006

Maria...


Nada de útil. Hoje não consigo trabalhar.A concentração está pouca. Tenho a testa quente. Acho que vem ai uma gripe. Sinto as pernas fracas e os musculos contraidos. Tenho sono. Esta noite adormeci tarde. Virei-me e virei-me. A mente deambulava, em nada em concreto. Mas estava anciosa e agitada. Sonhei que andava pela rocha e que o caminho era estreito. A rocha era bem recortada e dificil de contornar. Ia sem destino. Ouvia o mar ao fundo. E continuei na direcção de uma gaivota. Tinha uma expressão doce e desprotegida. Tinha frio. Tive de gatinhar mas fui em frente. Por fim, quase a rastejar lá cheguei. Ela assustou-se e voou, ou melhor tentou voar. Perdeu o equilibrio e rumou em queda livre sobre a rocha. Ficou ensanguentada, sem sentidos, deve ter morrido na hora. E eu, não sei o regresso a casa. Estou perdida por entre os recortes das rochas. Ando às voltas, e à roda. Mas não saio o mesmo lugar. Por fim não resisti, sentei-me dentro de uma pequena furna. Deixei-me ficar. Tinha frio e fome. Mal tinha forças para gritar. Bebi água da chuva e começei a espirrar. Fui desfalecendo, até que cai com a cabeça entre as rochas. Fiquei inconsciente. Acordei numa casa estranha, com uma lareira ao fundo. Bebi um leite quente. Fui recolhida por uma pescador das redondezas. Não sabia quem era, de onde vinha, nem como tinho ido ali parar. Naquele sitio isolado o pescador não me podia ajudar. Chamaram-me de Maria, e tornei-me contadora de histórias. Vivia da pesca e do cultivo de uma pequena horta. Todas as noites à volta da lareira soletrava um novo conto. Eu construia a história, criava personagens e determinava o final. As crianças sorriam. E a Maria era Feliz. Acordei sobressaltada, e o trabalho não está a render, mas a Maria continua a contar Histórias...

Monday, November 27, 2006

Cara a Cara...


Ando pela rua sozinha.. Sinto-me insegura. Qualquer movimento suspeito. Faço sempre o mesmo percurso. Todos os dias vejo um pormenor novo. Afinal aquela casa tinha barras verdes. e aquele jardim têm umas margaridas tão bonitas, as petálas são diferentes do comum. O semáforo está avariado, é preciso cuidado redobrado. As pessoas seguem na rua metidas consigo. De sorriso fechado. É o tempo de crise. Ultimamente sigo de cabeça em frente, mas o olhar está longe. Faço o percurso de uma forma rotineira, vou guiada pelos sentidos. Seguir para baixo, voltar à direita, e depois à esquerda. É nesse percurso que tudo acontece. Prefiro não olhar para as pessoas. Pressinto que me adivinham os pensamentos. Não quero. Quero ser a menina que todos os dias ás 8,25 atravessa o semáforo do fundo da rua para se dirigir ao trabalho. Ás vezes penso que está evidente. Que o brilho dos olhos claros não engana ninguém. Por enquanto está bem assim, ou menos mal. Daqui a uns tempos, o meu rosto ficará sem expressão. A expriência do teatro, não me faz perder a expressão, mas disfarca-a. Preciso de protecção. De um refúgio e de paz. Os neurónios giram a alta velocidade. O pessimismo realista adivinha tempo de crise. Estou a tremer. Não quero imaginar. Suspiro e estou gelada. Se te olhar nos olhos, não conseguirei. Mas se for dois centimetros para a esquerda ou para a direita estarei salva. Uma figura ao longe assusta-me. Gelo. Baixo a cabeça e continuo a andar. O semáforo já funciona, e não dei por ele. Atravessei no vermelho, o carro buzinou e acordei para a realidade. Foi por pouco.

Sunday, November 26, 2006

Recaida...



É noite, a saqueta de chá começa a dar cor à água quente. O aroma espalha-se no ar. Veêm-se dezenas de luzes. O céu está escuro, mas sem estar nublado. Começa então a viagem em busca de pormenores. O fumo do cigarro desaparece derepente no ar. Hoje tenho dificuldade em transpor os meus pensamentos. Vejo uma sucessão de imagens estáticas, em que o cenário varia, mas que é acima de tudo constante. Estou cansada. Os olhos estão pesados de sono. Alguns efeitos de ressaca. O chá está bem quente. Aquece-me a alma, conforta-me as paredes do estômago. Dá-me algum descanso. É chá de tilia. Estou inquieta. Não estou aqui. Não consigo controlar. Nem ao menos explicar. Estou triste. Comigo e contigo. É tudo tão antagónico. Queria desparecer, não sentir. Tirem-me o coração, façam-lhe uma boa injecção de razão. Recheiem-no de bom senso. Não quero pensar e muito menos sonhar. Trabalho e mais trabalho. Preciso de produzir de estar activa. Sinto que estou cada vez mais amarrotada, apertadinha. Tudo se comprime. Já à muito que não vejo o fundo do saco, nem consigo parar de enche-lo. Uns dias melhor, outros pior. Mais uma sucessão de imagens. Estou doente. Abro a gaveta da cabeceira, mas não tenho comprimido certo. Opto por um que me acalme, me me faça adormecer. Só espero que sono não me deixe sonhar, apenas dormir. Não consigo desfazer-me de recordações. São os pequenos sitios, as pessoas, as situações. Gestos, palavras e associações e mais associações, tudo vai parar sempre ao mesmo. Não controlo. A corrente arrasta-me, e hoje não tenho forças para resistir. O mar continua a bater nas rochas, e elas por mais erosão que sofram, por mais cor que percam, estão sempre lá. Os sonhos tem diferentes cores.O chá acabou. Uns dias melhor, outros dias pior. São assim as recaidas.

Friday, November 24, 2006

Frio do Adeus...






O frio arrepia-me os ossos e o vento solta-me o cabelo. O meu casaco branco, não me proteje do gelo que sinto. Tenho frio,e ele congela-me a alma. Sinto, mas não quero sentir. Vou deixar-te. Devagar, dia após dia, vou destruir este sentimento. Estou a lutar, para já uso um casaco aconchegado, daqui a dias usarei uma casaco mais quente ainda, resistente à chuva, ao vento e ao gelo... Até sabe bem, o frio, sentir aquele arrepio. Mas a ti, vou deixar-te ao frio, deixar que os teus ossos estalem no gelo. Eu ficarei com o meu cachecol, e as luvas, a ver-te desvanecer. Terás o teu fim. E o meu coração ficará cercado de gelo. Adeus!

Friday, November 10, 2006

Cansaço...



Chuvisca na rua... e já se sente frio, vem ai o Inverno. Cá dentro, os olhos querem-se fechar, repousar. Vejo-me naquela senhora que passa na rua, tem o rosto cansado, rugas que adivinham tempos dificeis. Olhar sombrio, algum sinal de abandono e descuido. Ela segue o seu caminho, de vez em quando veja que lhe falta o equilibrio, a spernas parecem fraquejar... Mas lá vai ela, encosta, e torna andar. Aqui, ouço o barulho das teclas, e as palavras vão surgindo na tentativa de explicar um estado de espirito. Mas as palavras não fazem sentido. Tantas palavras e sem sentido. Suspiro. E ouço de novo obater das teclas, devagar... enfim. A senhora está cada vez mais longe, ainda a consigo ver. O lenço, quase lhe cobre a face, e lhe esconde a expressão. Proteje-a do frio, e faz parte si. Assim como um conjunto de sabedoria parece carregar. Admiro a sua força e a vontade de caminhar. Olho pela janela, e a senhora já não está no meu horizonte...

Thursday, November 09, 2006

Tarde de Outono...


O vento sopra com alguma intensidade. Da minha janela posso ver os ramos das arvores a balouçar, e as folhas ziguezagueando pelo ar... Castanhas, leves, desgastadas do cansaço da Primavera, cheias de rugas, terminam um ciclo de vida efémero... Algumas seguem desorientadas, oferecem alguma resistência ao seu triste fim, tentam escapar em vão... Outras procuram escolher onde querem acabar. Terra batida, na relva, num jardim... Umas simplestmente se deixam levar, deixam-se conduzir ao sabor do vento. Muitas já cansadas, não oferecem resistência. É preciso dar o lugar a outras. Assim como as folhas... Também andamos por ai, orientados, ou nem por isso. Muitas vezes à espera do vento. Ora escolhendo, ora sendo empurrados. Para quê contrariar, para quê resistir. As folhas tem de ser viçosas, e trabalhar para o ciclo da natureza durante a Primavera, aproveitar o sol, as flores, os perfumes que deambulam no ar, o cantar dos passáros... Porque um dia esse ciclo não será mais delas... E ai o fim é igual. E Hoje é Outono, tarde bonita mas escura...

Sunday, November 05, 2006

Segredo...



Não aguento. As palavras encontram-se amontoadas cá dentro, o monte está enorme, e elas acumulam-se. Quero esconder-te, às vezes espreitas para o mundo, para a realidade, mas depressa te aprisiono. É melhor ficares cá dentro, assim fico mais protegida, ficamos mais protegidos... ou talvez não. Cá fora, no mundo, à quem desconfie que às vezes espreitas cá para fora. Ás vezes, penso que te veêm, que te descobriram. É dificil manter-te na solidão, levando vida vida de eremita, de egoísta. Será racional? Foges do racional, de tudo o que se possa traduzir por palavras, nem tu te sabes definir bem. Mas existes. Estás lá, de forma abstacta, e quase obsessivamente marcas de forma obrigatória os meus pensamentos. Muita coisa gira à tua volta. Mesmo a dormir estás comigo, no meu subconsciente bem consciente. Desaparece. Estás a sufocar-me. Alteras-me a rotina. Não me deixas viver emocionalmente. Se pudesse apagar-te, ou se estivesse ao meu alcance eliminar-te. Mas existem coisas que não assim tão lineares pelo facto de serem lineares. Ficas ai. Pois fica!Enquanto os meus anti-corpos resistirem. Depois, não sei. Não quero pensar. Estou perdida. E livra-te de dizer a alguém, porque é segredo....

Wednesday, November 01, 2006

Lua...



Lua, ó lua!
Bonita e iluminada
Cheia e imponente
Alegre e amargurada
Acompanhas-me a viagem
De forma meiga e silenciosa
De forma timida ou hospitaleira
Inspiras-me o anoitecer
Perco-me no pensamento
Divago ao olhar-te
Quero saber como és por dentro
O que esta para além da luz
Onde vais quando te escondes no mar
Porque mudas de forma
Um dia deslumbrante
Outro dia escondida
Porque te escondes?
Se acabas por voltar
Deixa-me chegar perto
Para te poder tocar
Para te poder conhecer
Para te poder acompanhar...
Lua, ó lua
Paro, só para te ver
Não me cansas porque nunca és igual
Seja a sombra, a forma ou tamanho
O mistério permanece
O meu querer continua
O meu sentimento prevalece
E tu, lua estás ai? Estás, e não queres responder
Ou te escondes
Ou espreitas
Ao longe
Ou bem ou perto
Ou de novo a fugir?
Quem és tu?
LUA, ó LUA?
Desvenda-me esse teu segredo
Porque te chamam lua?
Diz-me
Responde-me
Acompanha-me no meu silêncio
No teu silêncio
Sim, és tu? LUA , ó LUA... ?!

Saturday, October 28, 2006

Sombra


Existe algo que nos acompanha, mas que nem sempre vemos ou não queremos ver. Às vezes olhamos e vemos outa coisa qualquer, aquilo que queremos, aquilo que nos convém. Paro para olhar-te mas és escura, vejo uma forma, mas não vejo o conteúdo. Não fazes ruído, quero apanhar-te, mas só te consigo projectar. Hoje é diferente, hoje consigo ver mais além... Antes não conseguisse. Preciso de te sentir perto, ainda que não te veja. Estou tantas horas.... e outras tantas horas só contigo. Estou contigo quando estou com os outros. Estou contigo quando quero, e quando não quero. Pena que não falas, para saber o que te vai na alma. És reflectida, mas não vejo a projecção real. És parte de mim, mas não estás dentro de mim, ou estarás de outra forma qualquer? Estás... E agora? Sempre soube, mas hoje ficaste mais clara dentro da escuridão. Não sei como lidar contigo, mas quero-te aqui. Não sei se tu queres estar aqui,mas andas muito próximo, de uma forma ou de outra estás sempre. Fica aqui, que eu deixo que me acompanhes lado a lado, para que deixemos de ser duas e sejamos uma só.

Tuesday, October 24, 2006

O lenço...



Era cor de rosa e branco... o padrão era malhado. Era comprido e bonito. Usas com frequência. Uma marca de personalidade, um estilo, uma época, um recurso. Servia para ajudar a compar os seus cabelos desalinhados ao vento. O seu perfume era suave, roubava o perfume que usava. Marcava a diferença. Conhecida pela menina do lenço, era assim que os outros te conheciam. O lenço não falava mas trazia consigo um conjunto de ensinamentos. Era um marco de momentos importantes, uns mais alegres, outros nem tanto. Uma bela noite, a menina saiu e usou o seu acessório favorito. Puxaram-lhe o lenço, uma vez, e mais uma vez, e outras tantas vezes durante a noite. O lenço era uma meio de aproximar, de gerar situações... de provocar circunstâncias. Mais tarde, derepente, quando o controlo já não estava nas mãos da menina, na escuridão, com uma brisa, e com ajuda de umas mãos que não se movimentaram necessáriamente sobre o lenço, este começou a escorregar. Não se conseguia controlar o lenço, por ele não estava a ser controlado, até que este, deixado ao esquecimento, acabou por cair. Passada a agitação, o lenço apanhado do chão, já não voltou ás mãos da menina mas ás mãos que se movimentaram. Toda a gente estranhou que a menina do lenço cor de rosa, agora tinha os cabelos soltos ao vento, houve quem visse o lenço por outras paragens. Constou-se que o lenço estava agora em repouso, ao pé de acessórios a que não estava habituado. O lenço que outrora andara na cabeça da menina, que marcou um momento, e tantos outros, estava agora fechado em algum cúbiculo onde se guardavam lembranças. Nunca mais se ouviu falar no lenço...

Sunday, October 22, 2006

A Pulseira



É noite... as cervejas sucedem-se e as mentes libertam-se. O corpo acompanha a música. O momento é apenas aquele. A pulseira está apertada. É melhor alarga-la, não consigo.Isso incomoda-me. Insisto, mas em vão. Um aperto. Ajudas-me, pegando no braço, estou calma mas sinto o sangue a circular mais depressa ainda que com maior dificuldade. Tentas rodá-la, aos poucos melhora. Mas olha para a pulseira, não olhes para mim. Com jeito, tiras a pulseira.É uma sensação de alivio. Por segundos, sinto que a situação controlada deu origem a uma situação incontrolada. Os sentidos falam por si. Estás bem perto. Mas não. Ignoro os sentidos, e penso no amanhã, não me consigo abstrair. Os sentidos recalcam-se, quero, mas não quero, porque a magia do agora, é dor de amanhã. Quem sabe um dia, a pulseira não seja apenas só uma pulseira.

Estar ou não estar


É uma corrida contra o tempo.. passam os dias e as horas, não existem pausas.Estou cansada. Mudam-se os papéis, o actor tem de aceitar os papeis e pisar o palco. A peça não parece ter sido ainda encenada, faço o papel, entro em cena. Tem de começar, não houve ensaios, tenho de entrar, sai de improviso... Palavras e mais palavras... No entanto não fazem sentido, não acompanham o pensamento, são de acordo com o cenário, até me saio menos mal, mas não conheço este cenário, ou melhor não estou nele enquadrada. Novos actores, novos tiques, diferentes personagens e estilos. São muitas mudanças, mas lá estou eu, muitas vezes estando, sem estar... A peça repete-se com variantes, até que passarei a estar ou talvez não...

Sufoco

Não sei explicar. É como se o tempo tivesse parado. Tudo continua igual. Um ano, dois anos, três anos. Fico sufocada por estar presa. Não me consigo libertar. Também não o quero. O peso do sentimento, a dor do tempo... As minhas veias estão a ficar obstruídas, no meu sangue circulam as tuas palavras. Cada vez que inspiro ganho mais um bocadinho de ti, cada vez que expiro exteriorizo a minha tristeza. Não consigo guardar-te só para mim. Cada vez estou mais cheia, estás sempre presente, sempre constante. A força da tua ausência é tanta que me inunda o pensamento, que me faz ver-te sem estares. Bloqueias-me o pensamento, inundas-me os sentidos, a dor é tanta. Não aguento mais, a saudade escorre-me pelos olhos...