Sunday, November 26, 2006

Recaida...



É noite, a saqueta de chá começa a dar cor à água quente. O aroma espalha-se no ar. Veêm-se dezenas de luzes. O céu está escuro, mas sem estar nublado. Começa então a viagem em busca de pormenores. O fumo do cigarro desaparece derepente no ar. Hoje tenho dificuldade em transpor os meus pensamentos. Vejo uma sucessão de imagens estáticas, em que o cenário varia, mas que é acima de tudo constante. Estou cansada. Os olhos estão pesados de sono. Alguns efeitos de ressaca. O chá está bem quente. Aquece-me a alma, conforta-me as paredes do estômago. Dá-me algum descanso. É chá de tilia. Estou inquieta. Não estou aqui. Não consigo controlar. Nem ao menos explicar. Estou triste. Comigo e contigo. É tudo tão antagónico. Queria desparecer, não sentir. Tirem-me o coração, façam-lhe uma boa injecção de razão. Recheiem-no de bom senso. Não quero pensar e muito menos sonhar. Trabalho e mais trabalho. Preciso de produzir de estar activa. Sinto que estou cada vez mais amarrotada, apertadinha. Tudo se comprime. Já à muito que não vejo o fundo do saco, nem consigo parar de enche-lo. Uns dias melhor, outros pior. Mais uma sucessão de imagens. Estou doente. Abro a gaveta da cabeceira, mas não tenho comprimido certo. Opto por um que me acalme, me me faça adormecer. Só espero que sono não me deixe sonhar, apenas dormir. Não consigo desfazer-me de recordações. São os pequenos sitios, as pessoas, as situações. Gestos, palavras e associações e mais associações, tudo vai parar sempre ao mesmo. Não controlo. A corrente arrasta-me, e hoje não tenho forças para resistir. O mar continua a bater nas rochas, e elas por mais erosão que sofram, por mais cor que percam, estão sempre lá. Os sonhos tem diferentes cores.O chá acabou. Uns dias melhor, outros dias pior. São assim as recaidas.

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