Ando pela rua sozinha.. Sinto-me insegura. Qualquer movimento suspeito. Faço sempre o mesmo percurso. Todos os dias vejo um pormenor novo. Afinal aquela casa tinha barras verdes. e aquele jardim têm umas margaridas tão bonitas, as petálas são diferentes do comum. O semáforo está avariado, é preciso cuidado redobrado. As pessoas seguem na rua metidas consigo. De sorriso fechado. É o tempo de crise. Ultimamente sigo de cabeça em frente, mas o olhar está longe. Faço o percurso de uma forma rotineira, vou guiada pelos sentidos. Seguir para baixo, voltar à direita, e depois à esquerda. É nesse percurso que tudo acontece. Prefiro não olhar para as pessoas. Pressinto que me adivinham os pensamentos. Não quero. Quero ser a menina que todos os dias ás 8,25 atravessa o semáforo do fundo da rua para se dirigir ao trabalho. Ás vezes penso que está evidente. Que o brilho dos olhos claros não engana ninguém. Por enquanto está bem assim, ou menos mal. Daqui a uns tempos, o meu rosto ficará sem expressão. A expriência do teatro, não me faz perder a expressão, mas disfarca-a. Preciso de protecção. De um refúgio e de paz. Os neurónios giram a alta velocidade. O pessimismo realista adivinha tempo de crise. Estou a tremer. Não quero imaginar. Suspiro e estou gelada. Se te olhar nos olhos, não conseguirei. Mas se for dois centimetros para a esquerda ou para a direita estarei salva. Uma figura ao longe assusta-me. Gelo. Baixo a cabeça e continuo a andar. O semáforo já funciona, e não dei por ele. Atravessei no vermelho, o carro buzinou e acordei para a realidade. Foi por pouco.
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