Tuesday, November 28, 2006

Maria...


Nada de útil. Hoje não consigo trabalhar.A concentração está pouca. Tenho a testa quente. Acho que vem ai uma gripe. Sinto as pernas fracas e os musculos contraidos. Tenho sono. Esta noite adormeci tarde. Virei-me e virei-me. A mente deambulava, em nada em concreto. Mas estava anciosa e agitada. Sonhei que andava pela rocha e que o caminho era estreito. A rocha era bem recortada e dificil de contornar. Ia sem destino. Ouvia o mar ao fundo. E continuei na direcção de uma gaivota. Tinha uma expressão doce e desprotegida. Tinha frio. Tive de gatinhar mas fui em frente. Por fim, quase a rastejar lá cheguei. Ela assustou-se e voou, ou melhor tentou voar. Perdeu o equilibrio e rumou em queda livre sobre a rocha. Ficou ensanguentada, sem sentidos, deve ter morrido na hora. E eu, não sei o regresso a casa. Estou perdida por entre os recortes das rochas. Ando às voltas, e à roda. Mas não saio o mesmo lugar. Por fim não resisti, sentei-me dentro de uma pequena furna. Deixei-me ficar. Tinha frio e fome. Mal tinha forças para gritar. Bebi água da chuva e começei a espirrar. Fui desfalecendo, até que cai com a cabeça entre as rochas. Fiquei inconsciente. Acordei numa casa estranha, com uma lareira ao fundo. Bebi um leite quente. Fui recolhida por uma pescador das redondezas. Não sabia quem era, de onde vinha, nem como tinho ido ali parar. Naquele sitio isolado o pescador não me podia ajudar. Chamaram-me de Maria, e tornei-me contadora de histórias. Vivia da pesca e do cultivo de uma pequena horta. Todas as noites à volta da lareira soletrava um novo conto. Eu construia a história, criava personagens e determinava o final. As crianças sorriam. E a Maria era Feliz. Acordei sobressaltada, e o trabalho não está a render, mas a Maria continua a contar Histórias...

Monday, November 27, 2006

Cara a Cara...


Ando pela rua sozinha.. Sinto-me insegura. Qualquer movimento suspeito. Faço sempre o mesmo percurso. Todos os dias vejo um pormenor novo. Afinal aquela casa tinha barras verdes. e aquele jardim têm umas margaridas tão bonitas, as petálas são diferentes do comum. O semáforo está avariado, é preciso cuidado redobrado. As pessoas seguem na rua metidas consigo. De sorriso fechado. É o tempo de crise. Ultimamente sigo de cabeça em frente, mas o olhar está longe. Faço o percurso de uma forma rotineira, vou guiada pelos sentidos. Seguir para baixo, voltar à direita, e depois à esquerda. É nesse percurso que tudo acontece. Prefiro não olhar para as pessoas. Pressinto que me adivinham os pensamentos. Não quero. Quero ser a menina que todos os dias ás 8,25 atravessa o semáforo do fundo da rua para se dirigir ao trabalho. Ás vezes penso que está evidente. Que o brilho dos olhos claros não engana ninguém. Por enquanto está bem assim, ou menos mal. Daqui a uns tempos, o meu rosto ficará sem expressão. A expriência do teatro, não me faz perder a expressão, mas disfarca-a. Preciso de protecção. De um refúgio e de paz. Os neurónios giram a alta velocidade. O pessimismo realista adivinha tempo de crise. Estou a tremer. Não quero imaginar. Suspiro e estou gelada. Se te olhar nos olhos, não conseguirei. Mas se for dois centimetros para a esquerda ou para a direita estarei salva. Uma figura ao longe assusta-me. Gelo. Baixo a cabeça e continuo a andar. O semáforo já funciona, e não dei por ele. Atravessei no vermelho, o carro buzinou e acordei para a realidade. Foi por pouco.

Sunday, November 26, 2006

Recaida...



É noite, a saqueta de chá começa a dar cor à água quente. O aroma espalha-se no ar. Veêm-se dezenas de luzes. O céu está escuro, mas sem estar nublado. Começa então a viagem em busca de pormenores. O fumo do cigarro desaparece derepente no ar. Hoje tenho dificuldade em transpor os meus pensamentos. Vejo uma sucessão de imagens estáticas, em que o cenário varia, mas que é acima de tudo constante. Estou cansada. Os olhos estão pesados de sono. Alguns efeitos de ressaca. O chá está bem quente. Aquece-me a alma, conforta-me as paredes do estômago. Dá-me algum descanso. É chá de tilia. Estou inquieta. Não estou aqui. Não consigo controlar. Nem ao menos explicar. Estou triste. Comigo e contigo. É tudo tão antagónico. Queria desparecer, não sentir. Tirem-me o coração, façam-lhe uma boa injecção de razão. Recheiem-no de bom senso. Não quero pensar e muito menos sonhar. Trabalho e mais trabalho. Preciso de produzir de estar activa. Sinto que estou cada vez mais amarrotada, apertadinha. Tudo se comprime. Já à muito que não vejo o fundo do saco, nem consigo parar de enche-lo. Uns dias melhor, outros pior. Mais uma sucessão de imagens. Estou doente. Abro a gaveta da cabeceira, mas não tenho comprimido certo. Opto por um que me acalme, me me faça adormecer. Só espero que sono não me deixe sonhar, apenas dormir. Não consigo desfazer-me de recordações. São os pequenos sitios, as pessoas, as situações. Gestos, palavras e associações e mais associações, tudo vai parar sempre ao mesmo. Não controlo. A corrente arrasta-me, e hoje não tenho forças para resistir. O mar continua a bater nas rochas, e elas por mais erosão que sofram, por mais cor que percam, estão sempre lá. Os sonhos tem diferentes cores.O chá acabou. Uns dias melhor, outros dias pior. São assim as recaidas.

Friday, November 24, 2006

Frio do Adeus...






O frio arrepia-me os ossos e o vento solta-me o cabelo. O meu casaco branco, não me proteje do gelo que sinto. Tenho frio,e ele congela-me a alma. Sinto, mas não quero sentir. Vou deixar-te. Devagar, dia após dia, vou destruir este sentimento. Estou a lutar, para já uso um casaco aconchegado, daqui a dias usarei uma casaco mais quente ainda, resistente à chuva, ao vento e ao gelo... Até sabe bem, o frio, sentir aquele arrepio. Mas a ti, vou deixar-te ao frio, deixar que os teus ossos estalem no gelo. Eu ficarei com o meu cachecol, e as luvas, a ver-te desvanecer. Terás o teu fim. E o meu coração ficará cercado de gelo. Adeus!

Friday, November 10, 2006

Cansaço...



Chuvisca na rua... e já se sente frio, vem ai o Inverno. Cá dentro, os olhos querem-se fechar, repousar. Vejo-me naquela senhora que passa na rua, tem o rosto cansado, rugas que adivinham tempos dificeis. Olhar sombrio, algum sinal de abandono e descuido. Ela segue o seu caminho, de vez em quando veja que lhe falta o equilibrio, a spernas parecem fraquejar... Mas lá vai ela, encosta, e torna andar. Aqui, ouço o barulho das teclas, e as palavras vão surgindo na tentativa de explicar um estado de espirito. Mas as palavras não fazem sentido. Tantas palavras e sem sentido. Suspiro. E ouço de novo obater das teclas, devagar... enfim. A senhora está cada vez mais longe, ainda a consigo ver. O lenço, quase lhe cobre a face, e lhe esconde a expressão. Proteje-a do frio, e faz parte si. Assim como um conjunto de sabedoria parece carregar. Admiro a sua força e a vontade de caminhar. Olho pela janela, e a senhora já não está no meu horizonte...

Thursday, November 09, 2006

Tarde de Outono...


O vento sopra com alguma intensidade. Da minha janela posso ver os ramos das arvores a balouçar, e as folhas ziguezagueando pelo ar... Castanhas, leves, desgastadas do cansaço da Primavera, cheias de rugas, terminam um ciclo de vida efémero... Algumas seguem desorientadas, oferecem alguma resistência ao seu triste fim, tentam escapar em vão... Outras procuram escolher onde querem acabar. Terra batida, na relva, num jardim... Umas simplestmente se deixam levar, deixam-se conduzir ao sabor do vento. Muitas já cansadas, não oferecem resistência. É preciso dar o lugar a outras. Assim como as folhas... Também andamos por ai, orientados, ou nem por isso. Muitas vezes à espera do vento. Ora escolhendo, ora sendo empurrados. Para quê contrariar, para quê resistir. As folhas tem de ser viçosas, e trabalhar para o ciclo da natureza durante a Primavera, aproveitar o sol, as flores, os perfumes que deambulam no ar, o cantar dos passáros... Porque um dia esse ciclo não será mais delas... E ai o fim é igual. E Hoje é Outono, tarde bonita mas escura...

Sunday, November 05, 2006

Segredo...



Não aguento. As palavras encontram-se amontoadas cá dentro, o monte está enorme, e elas acumulam-se. Quero esconder-te, às vezes espreitas para o mundo, para a realidade, mas depressa te aprisiono. É melhor ficares cá dentro, assim fico mais protegida, ficamos mais protegidos... ou talvez não. Cá fora, no mundo, à quem desconfie que às vezes espreitas cá para fora. Ás vezes, penso que te veêm, que te descobriram. É dificil manter-te na solidão, levando vida vida de eremita, de egoísta. Será racional? Foges do racional, de tudo o que se possa traduzir por palavras, nem tu te sabes definir bem. Mas existes. Estás lá, de forma abstacta, e quase obsessivamente marcas de forma obrigatória os meus pensamentos. Muita coisa gira à tua volta. Mesmo a dormir estás comigo, no meu subconsciente bem consciente. Desaparece. Estás a sufocar-me. Alteras-me a rotina. Não me deixas viver emocionalmente. Se pudesse apagar-te, ou se estivesse ao meu alcance eliminar-te. Mas existem coisas que não assim tão lineares pelo facto de serem lineares. Ficas ai. Pois fica!Enquanto os meus anti-corpos resistirem. Depois, não sei. Não quero pensar. Estou perdida. E livra-te de dizer a alguém, porque é segredo....

Wednesday, November 01, 2006

Lua...



Lua, ó lua!
Bonita e iluminada
Cheia e imponente
Alegre e amargurada
Acompanhas-me a viagem
De forma meiga e silenciosa
De forma timida ou hospitaleira
Inspiras-me o anoitecer
Perco-me no pensamento
Divago ao olhar-te
Quero saber como és por dentro
O que esta para além da luz
Onde vais quando te escondes no mar
Porque mudas de forma
Um dia deslumbrante
Outro dia escondida
Porque te escondes?
Se acabas por voltar
Deixa-me chegar perto
Para te poder tocar
Para te poder conhecer
Para te poder acompanhar...
Lua, ó lua
Paro, só para te ver
Não me cansas porque nunca és igual
Seja a sombra, a forma ou tamanho
O mistério permanece
O meu querer continua
O meu sentimento prevalece
E tu, lua estás ai? Estás, e não queres responder
Ou te escondes
Ou espreitas
Ao longe
Ou bem ou perto
Ou de novo a fugir?
Quem és tu?
LUA, ó LUA?
Desvenda-me esse teu segredo
Porque te chamam lua?
Diz-me
Responde-me
Acompanha-me no meu silêncio
No teu silêncio
Sim, és tu? LUA , ó LUA... ?!