Saturday, October 28, 2006

Sombra


Existe algo que nos acompanha, mas que nem sempre vemos ou não queremos ver. Às vezes olhamos e vemos outa coisa qualquer, aquilo que queremos, aquilo que nos convém. Paro para olhar-te mas és escura, vejo uma forma, mas não vejo o conteúdo. Não fazes ruído, quero apanhar-te, mas só te consigo projectar. Hoje é diferente, hoje consigo ver mais além... Antes não conseguisse. Preciso de te sentir perto, ainda que não te veja. Estou tantas horas.... e outras tantas horas só contigo. Estou contigo quando estou com os outros. Estou contigo quando quero, e quando não quero. Pena que não falas, para saber o que te vai na alma. És reflectida, mas não vejo a projecção real. És parte de mim, mas não estás dentro de mim, ou estarás de outra forma qualquer? Estás... E agora? Sempre soube, mas hoje ficaste mais clara dentro da escuridão. Não sei como lidar contigo, mas quero-te aqui. Não sei se tu queres estar aqui,mas andas muito próximo, de uma forma ou de outra estás sempre. Fica aqui, que eu deixo que me acompanhes lado a lado, para que deixemos de ser duas e sejamos uma só.

Tuesday, October 24, 2006

O lenço...



Era cor de rosa e branco... o padrão era malhado. Era comprido e bonito. Usas com frequência. Uma marca de personalidade, um estilo, uma época, um recurso. Servia para ajudar a compar os seus cabelos desalinhados ao vento. O seu perfume era suave, roubava o perfume que usava. Marcava a diferença. Conhecida pela menina do lenço, era assim que os outros te conheciam. O lenço não falava mas trazia consigo um conjunto de ensinamentos. Era um marco de momentos importantes, uns mais alegres, outros nem tanto. Uma bela noite, a menina saiu e usou o seu acessório favorito. Puxaram-lhe o lenço, uma vez, e mais uma vez, e outras tantas vezes durante a noite. O lenço era uma meio de aproximar, de gerar situações... de provocar circunstâncias. Mais tarde, derepente, quando o controlo já não estava nas mãos da menina, na escuridão, com uma brisa, e com ajuda de umas mãos que não se movimentaram necessáriamente sobre o lenço, este começou a escorregar. Não se conseguia controlar o lenço, por ele não estava a ser controlado, até que este, deixado ao esquecimento, acabou por cair. Passada a agitação, o lenço apanhado do chão, já não voltou ás mãos da menina mas ás mãos que se movimentaram. Toda a gente estranhou que a menina do lenço cor de rosa, agora tinha os cabelos soltos ao vento, houve quem visse o lenço por outras paragens. Constou-se que o lenço estava agora em repouso, ao pé de acessórios a que não estava habituado. O lenço que outrora andara na cabeça da menina, que marcou um momento, e tantos outros, estava agora fechado em algum cúbiculo onde se guardavam lembranças. Nunca mais se ouviu falar no lenço...

Sunday, October 22, 2006

A Pulseira



É noite... as cervejas sucedem-se e as mentes libertam-se. O corpo acompanha a música. O momento é apenas aquele. A pulseira está apertada. É melhor alarga-la, não consigo.Isso incomoda-me. Insisto, mas em vão. Um aperto. Ajudas-me, pegando no braço, estou calma mas sinto o sangue a circular mais depressa ainda que com maior dificuldade. Tentas rodá-la, aos poucos melhora. Mas olha para a pulseira, não olhes para mim. Com jeito, tiras a pulseira.É uma sensação de alivio. Por segundos, sinto que a situação controlada deu origem a uma situação incontrolada. Os sentidos falam por si. Estás bem perto. Mas não. Ignoro os sentidos, e penso no amanhã, não me consigo abstrair. Os sentidos recalcam-se, quero, mas não quero, porque a magia do agora, é dor de amanhã. Quem sabe um dia, a pulseira não seja apenas só uma pulseira.

Estar ou não estar


É uma corrida contra o tempo.. passam os dias e as horas, não existem pausas.Estou cansada. Mudam-se os papéis, o actor tem de aceitar os papeis e pisar o palco. A peça não parece ter sido ainda encenada, faço o papel, entro em cena. Tem de começar, não houve ensaios, tenho de entrar, sai de improviso... Palavras e mais palavras... No entanto não fazem sentido, não acompanham o pensamento, são de acordo com o cenário, até me saio menos mal, mas não conheço este cenário, ou melhor não estou nele enquadrada. Novos actores, novos tiques, diferentes personagens e estilos. São muitas mudanças, mas lá estou eu, muitas vezes estando, sem estar... A peça repete-se com variantes, até que passarei a estar ou talvez não...

Sufoco

Não sei explicar. É como se o tempo tivesse parado. Tudo continua igual. Um ano, dois anos, três anos. Fico sufocada por estar presa. Não me consigo libertar. Também não o quero. O peso do sentimento, a dor do tempo... As minhas veias estão a ficar obstruídas, no meu sangue circulam as tuas palavras. Cada vez que inspiro ganho mais um bocadinho de ti, cada vez que expiro exteriorizo a minha tristeza. Não consigo guardar-te só para mim. Cada vez estou mais cheia, estás sempre presente, sempre constante. A força da tua ausência é tanta que me inunda o pensamento, que me faz ver-te sem estares. Bloqueias-me o pensamento, inundas-me os sentidos, a dor é tanta. Não aguento mais, a saudade escorre-me pelos olhos...