Thursday, January 18, 2007

Desespero


Atiro com os livros pela secretária fora... não posso mais. O sempre tomou conta do quotidiano. Falta qualquer coisa. O sentido já não faz sentido. Maldita rotina. Até os atacadores dos sapatos se desapertam à mesma hora. Sigo em piloto automático. Não sou capaz de dar mais um nó. Nem o pulso sem relógio e os dedo sem anel me livram dos compromissos. Quando acabar vem o depois. O Incerto. Longe de ser rotina ainda. Um dia certamente o será. Que se desalinhem as sobrancelhas e que cresçam as unhas. Que as raizes do cabelo denunciem a sua verdadeira cor. Óu não. É preciso manter aparências, esconder o eu, e parecer outrém que não existe. A razão é educada pelas palavras, os sentimentos corrigidos pelo recalcamento. Caramba, o têm que ser tem muita força...

Monday, January 08, 2007

Memória...


Muito apagada... os contornos já não são os de outrém, os riscos são menos vincados. Muita coisa se perdeu. O agarrar o presente desfez muito do passado. Tanto que deixou de existir. Aquele passeio à beira- mar, aquela conversa, muitos dias e outars tantas ocasiões. Muitos momentos, sorriso e choro. Há tanto tempo que os malmequeres já não estão no jardim de casa. As pessoas evidenciam na cor do cabelo sinais do tempo. E não me apercebi. Aquela rapariga que andou comigo na escola primária comigo está grávida do segundo filho, penso que era Ana, ou seria Andreia. Só sei que foi ela que me ajudou quando no primeiro dia de aulas, cai e esfolei o joelho todo. A minha vizinha divorciou-se, e agora digo-lhe um olá, não tenho mais nada para acrescentar. A cabeça ocupa-se de novos momentos. O sentidos ganhos disputam lugar com os que se perdem. Ficam marcos, pormenores, vão-se maiúsculas. Vão embora os nomes e ficam os adjectivos. Nomenclaturas torneadas de pouco, descrições mal acabadas carregadas de muito. Arrisco os verbos, recorro aos condicionais.... será que.. Palavras agrupadas que não formam um texto. Lógica, à muito tempo que a perdi. Selecção, escolhas. Pouco espaço para muita informação. Desgaste natural. Não sei. As letras amontoam-se no papel vazio...

Thursday, January 04, 2007

E o passado foi mudado no Futuro...


Assim foram. Anos recolhidos no intimo do eu. Palavras mudas e sentimentos recalcados. O dia-a-dia esmagava-me lentamente. Todos dias estavas presente, mesmo ao pé de mim. E sempre longe. Os meus pensamentos tentavam fantasiar hipoteses, a crueldade da idade deixava cicatrizes. Assim era, sozinha levava o barco. Mas estava sempre à deriva. Aquela ondulação, era puxada por uma corrente forte. As atitudes eram condicionadas por medo, a vergonha de mim mesmo, sentia-me monstruosa. O barco ia-se remendando... água dentro.... água fora...Sempre retraida, sem vontade de remar. Passaram os anos. Sempre aquela mágoa. O tempo foi suavizando. E as vivências foram sendo substituidas. A vida ensinou-me a remar, mais depressa mais devagar. Ao meu ritmo. O meu alterou-se, a vergonha foi substituida por experiencia e o medo por coragem . O barco dirigiu-se ao teu encontro. Hesitei. Lá fui, já era mais que hora... A carga do passado já não fazia sentido. As palavras e sentimentos passados mudaram. Marcaram uma época. Mas o sentido agora é outro. O barquinho ainda por aqui anda. E o passado foi mudado no futuro.