Muito apagada... os contornos já não são os de outrém, os riscos são menos vincados. Muita coisa se perdeu. O agarrar o presente desfez muito do passado. Tanto que deixou de existir. Aquele passeio à beira- mar, aquela conversa, muitos dias e outars tantas ocasiões. Muitos momentos, sorriso e choro. Há tanto tempo que os malmequeres já não estão no jardim de casa. As pessoas evidenciam na cor do cabelo sinais do tempo. E não me apercebi. Aquela rapariga que andou comigo na escola primária comigo está grávida do segundo filho, penso que era Ana, ou seria Andreia. Só sei que foi ela que me ajudou quando no primeiro dia de aulas, cai e esfolei o joelho todo. A minha vizinha divorciou-se, e agora digo-lhe um olá, não tenho mais nada para acrescentar. A cabeça ocupa-se de novos momentos. O sentidos ganhos disputam lugar com os que se perdem. Ficam marcos, pormenores, vão-se maiúsculas. Vão embora os nomes e ficam os adjectivos. Nomenclaturas torneadas de pouco, descrições mal acabadas carregadas de muito. Arrisco os verbos, recorro aos condicionais.... será que.. Palavras agrupadas que não formam um texto. Lógica, à muito tempo que a perdi. Selecção, escolhas. Pouco espaço para muita informação. Desgaste natural. Não sei. As letras amontoam-se no papel vazio...